“Este Papa é um sinal de esperança”
O Papa Francisco pediu, por duas ocasiões, a D. José Policarpo,
cardeal patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa,
que consagrasse o seu ministério petrino a Nossa Senhora de Fátima.
A revelação foi feita esta tarde no Santuário de Fátima por D.
José Policarpo, na sessão de abertura da 181.ª Assembleia Plenária da
Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
No final do discurso de abertura, D. José Policarpo revelou: “O
Papa Francisco pediu-me duas vezes que consagrasse o seu novo ministério a
Nossa Senhora de Fátima. É mandato que posso cumprir no silêncio da oração. Mas
seria belo que toda a Conferência Episcopal se associasse à realização deste
pedido. Maria guiar-nos-á em todos os nossos trabalhos e também na forma de dar
cumprimento a este desejo do Papa Francisco”.
A Assembleia Plenária decorre até à próxima
quinta-feira, 11 de abril, na Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores.
Neste momento inicial de abertura de
trabalhos, o presidente da CEP centrou a sua reflexão em dois acontecimentos: a
Ressurreição de Cristo e a eleição do Papa Francisco.
A propósito do primeiro acontecimento, D. José
Policarpo sublinhou dois aspetos que considera relacionados com a “exigência
pascal”. O primeiro prende-se com a necessidade de acentuar nos cristãos a
vocação de serem peregrinos do santuário celeste.
“Todos temos consciência de que é urgente
acentuar, nos cristãos e nas comunidades, esta vocação de peregrinos do
santuário celeste. O desejo de participar, com Cristo, da plenitude da vida, em
Deus, é frágil na compreensão da fé de muitos dos nossos cristãos”, afirmou.
O segundo aspeto da exigência pascal é,
considera D. José Policarpo, os cristãos terem “a coragem de assumir todas as
realidades criadas, ao ritmo da plenitude de Cristo”.
“Essa é também uma exigência para o nosso
magistério de Bispos: nada fica de fora do ensinamento da Igreja, mas é nosso
dever falar de todas as realidades, iluminando-as com essa vocação de
eternidade. Podemos falar de tudo, mas não devemos falar de nada sem iluminar a
realidade com a luz pascal, que revela o verdadeiro sentido de todas as
coisas”, disse.
Sobre o conclave e sobre os primeiros tempos
do ainda recente pontificado, D. José Policarpo disse que a eleição de D. Jorge
Mario Bergoglio foi “uma autêntica surpresa do Espírito Santo e está a
surpreender mesmo aqueles que o elegeram”.
Relembrou que “logo no início (o Papa
Francisco) falou-nos da importância da ternura na nossa relação pastoral – dá
um lugar privilegiado aos pobres, aos marginalizados, a todos os que sofrem.
Foi muito claro ao afirmar que o modelo de Igreja que o atrai é uma Igreja
pobre, ao serviço dos pobres”.
O presidente da CEP destacou ainda a “ousadia”
do novo Papa em traduzir “essa sua visão de Igreja nos símbolos exteriores da
grandeza do ministério Petrino: a simplicidade no vestir, a renúncia às joias
preciosas, escolher viver num sítio onde a convivência, em Igreja, seja dado
fundamental”.
“Este Papa é um sinal de esperança. Não deixar
morrer a esperança já é sua mensagem explícita. Isso significa reformas
inevitáveis na vida da Igreja? Com certeza. Toda a gente fala na reforma da
Cúria; ele ainda não falou. Mas já deu para perceber a linha que seguirá”.
Sobre esse rumo, D. José Policarpo antevê que
o Papa venha a “corrigir algo que também sentimos nas nossas Dioceses que é dar
prioridade à vitalidade pastoral, não deixando que a burocracia administrativa
tome o primeiro lugar”.
“No caso da Cúria Romana a sua reforma tem de
ser feita revalorizando a doutrina do Concílio Vaticano II sobre a
colegialidade dos Bispos e a justa autonomia das Igrejas particulares. Esta
reforma não pode ser feita a partir de erros e escândalos, concentrados num tão
falado relatório”, alertou.
Para D. José Policarpo, “os erros são para corrigir, as pessoas
para converter”.
LeopolDina Simões
Fonte: Santuário de Fátima