segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Ideologia ou religião?

Dom Aldo Pagotto
Arcebispo da Paraíba (PB)
A série de atentados terroristas, seguidos de massacres inomináveis, suscita em nós um misto de consternação e indignação ética. Há alguns anos, após os atentados às Torres Gêmeas e ao Pentágono, sucedem-se provocações, ameaças e fatos consumados de ódio e vingança às nações do Ocidente. Em suma, ao que parece, a tendência do terrorismo é confundir mundo capitalista e “status quo cristão”. Jornalistas e analistas políticos internacionais não conseguem esboçar uma resposta lógica, tentando explicitar “por que” que em pleno século XXI recrudesce o fanatismo fundamentalista, de caráter religioso. Por que destruir tudo o que seja considerado inimigo do Estado Islâmico (EI)?

Numa expressão apressada, e por isso perigosa, espalha-se a ideia confusa de que religião identifica-se com fanatismo irracional e alienado. Ao recente massacre do “Charlie Hebdo” seguiu-se a destruição de estabelecimentos cristãos e novo massacre no Níger, somando-se duas mil execuções sumárias. Em vários países, cuja população é de maioria muçulmana, seguem-se atentados, violações, destruições, mortes cruéis. Tudo isso é praticado contra os cristãos e contra os que discordarem do regime implantado pelo novo Estado Islâmico. A tolerância humana tem limites ante o absurdo. Até que ponto a humanidade conseguirá tolerar tanta irracionalidade? Como entender o século XXI vendo crescer mais e mais o fundamentalismo que se dá ao luxo de passar por cima de quaisquer convenções sobre Direitos Humanos? Estamos diante de um radicalismo intolerável. Na esfera mundial, hoje, é inconcebível tolerar a negação dos direitos humanos fundamentais e irreformáveis. Trata-se do direito de expressão de um lado e de outro o direito à liberdade religiosa ou filosófica.
Todo cidadão possui o direito de expressar suas crenças e valores, contanto que não se imponha pela força violando o direito dos outros. Crenças e valores humanitários são reputados como sagrados na esfera pessoal, comunitária e social. Tenho o direito de expressar minha opinião, crença ou valor, sem ser agredido, debochado, massacrado por alguém que discorde. A pluralidade de expressão de valores é um bem inquestionável e inviolável. Jamais existirá sociedade democrática sem o direito de expressar opiniões plurais legítimas, constitucionalmente. A intolerância é anticonstitucional. O bom senso segue-se ao respeito recíproco. A liberdade de expressão identifica-se como legítimo direito de exprimir crenças e valores que não se confundem com imposição, proselitismo religioso e, menos ainda, com guerra santa, conspurcando o nome de Deus.
Fonte: CNBB

domingo, 1 de fevereiro de 2015

“Cardinalato é vocação, não um prêmio”, diz papa Francisco

Durante o Consistório, no dia 14 de fevereiro, o papa Francisco criará 15 novos cardeais. Os futuros cardeais são de diferentes países como Europa, Ásia, América Latina (México incluído), África e Oceania. Em carta enviada aos nomeados, o papa recordou que o cardinalato não é um prêmio, mas "ser cardeal significa dar testemunho da Ressurreição do Senhor na Diocese de Roma".
Ainda, na mensagem, o papa pede aos novos cardeais que se preparem “com oração e um pouco de penitência" e tenham "muita paz e alegria”.
Confira a íntegra da carta:
 “Caro irmão,
Hoje foi publicada a sua designação como Cardeal da Santa Igreja Romana. Que a minha saudação e minhas orações cheguem a ti. Peço ao Senhor que te acompanhe neste novo serviço, que é um serviço de ajuda, suporte e proximidade especial à pessoa do Papa e para o bem da Igreja.
E justamente para que essa dimensão de serviço seja exercitada, o cardinalato é uma vocação. O Senhor, por meio da Igreja, te chama uma vez mais a servir; e a ti fará bem ao coração repetir na oração a expressão que Jesus sugeriu aos seus discípulos para que se mantivessem na humildade. Digam: ‘Somos servos inúteis', e isso não como fórmula de boa educação mas como verdade depois do trabalho 'quando fizerdes tudo o que vos foi mandado'. (Lc 17, 10).
Manter-se com humildade no serviço não é fácil quando se considera o cardinalato como um prêmio, como o ápice de uma carreira, uma dignidade de poder ou de distinção superior. Desde já, o teu compromisso cotidiano para manter afastadas estas considerações e, sobretudo, para recordar que ser Cardeal significa servir na Diocese de Roma para dar testemunho a esta da Ressurreição do Senhor e dá-lo totalmente, até o sangue, se necessário.
Muitos ficarão felizes por esta tua nova vocação e, como bons cristãos, farão festa (porque e característica do cristão alegrar-se e saber festejar). Aceita-o com humildade. Faça com que, nestes festejamentos, não se insinue o espírito da mundanidade que embriaga mais do que graça em jejum, desorienta e separa da cruz de Cristo.
Nos vemos no dia 14 de fevereiro. Prepara-te com oração e um pouco de penitencia. Tenha muita paz e alegria. E, por favor, te peço de não esqueceres de rezar por mim. Deus te abençoe e a Virgem Maria te proteja. Fraternalmente, Francisco". 
Fonte: CNBB