Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Neste
domingo celebramos o Dia Mundial das Missões, com a mensagem do Papa Francisco
comentando sobre a vida religiosa missionária, e o tema do Brasil sobre a
Missão como serviço. É também o Dia da Obra Pontifícia da Infância Missionária.
Eu me
recordo de que nos meus tempos de criança uma das revistas que nos alimentava
na reflexão se chamava “ O pequeno missionário”, e que tanto bem me fez. Isso
me remete a empreender uma reflexão sobre a Infância Missionária.
Acrescento
a isso a importância do nosso gesto concreto neste Ano da Esperança, que é a
continuação das reuniões missionárias, neste mês levando a cruz em forma de
chama para marcar nossa presença de evangelizadores. Daqui a dois meses
aproximadamente estaremos dentro do Ano do Jubileu da Misericórdia. Creio que
será muito bom meditar sobre a necessidade de nossa consciência sobre essa obra
pontifícia.
A
Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária (IAM) foi fundada por
Dom Carlos Forbin Janson, Bispo de Nancy, França, em 19 de maio de 1843. Carlos
Forbin Janson sempre se interessou muito pela realidade e evangelização dos
povos. Já na adolescência manteve estreita ligação com os missionários da
China. Seu desejo era ir à China e ser missionário com os missionários.
Era
frequente receber cartas como estas, da qual transcrevemos algumas passagens:
“Encontro-me rodeado, mesmo sem saber como, de uma dezena de crianças, umas de
peito, outras de dois, três, quatro anos de idade, algumas cobertas de sarna,
outras, de feridas. Os pobrezinhos já não têm o que comer e se cansam de
chorar. É preciso conseguir comida para eles, e pagá-la... Enquanto isso, para
não morrerem de fome, vejo-me obrigado a preparar-lhes eu mesmo um prato de
farinha e açúcar, depois tento arranjar-lhes roupa, medicá-los, lavá-los,
dar-lhes um teto, enfim, fazer às vezes de uma mãe... Deus concede-me as forças
para sustentar tantas crianças, mas, se eu não for ajudado com alguma esmola,
morrerei com eles”. "(...) falando de batizados, refiro-me a adultos. Na
realidade, batizamos muitas crianças que são expostas diariamente nas ruas
(...). Para nós, uma das primeiras preocupações é mandar todas as manhãs nossos
catequistas para todos os arredores da cidade e batizar as crianças que ainda
estão vivas. De 20 a 30 mil que são expostas cada ano, nossos catequistas
conseguem batizar cerca de três mil".
De posse
de informações a respeito do sofrimento de milhares de crianças, o bispo teve a
inspiração de convocar as crianças católicas para se organizarem com o objetivo
de prestar socorro às crianças nas mais tristes situações. Como fazer? Dom
Carlos conversou com Paulina Jaricot. Ela, quando jovem, tinha dado início à
Obra da Propagação da Fé. Ouvindo o plano de Dom Carlos, apoiou a ideia dele, e
definiu essa iniciativa como "Obra da Propagação da Fé para as
Crianças". Ela mesma expressou seu desejo de se alistar como primeira
associada para a divulgação da Obra.
Era
preciso fazer alguma coisa: Dom Carlos Forbin Janson resolveu convocar as
crianças para socorrer as crianças. Propôs às crianças da França que ajudassem
outras crianças recitando uma Ave Maria por dia e doando um dinheiro por mês;
assim surgiu a Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária.
Dom
Carlos tinha em mente visitar, uma após a outra, as nações da Europa, pregando
esta nova cruzada de batismo, educação e resgate das crianças chinesas, e, uma
vez garantida a Obra, embarcar ele próprio para aquele país, onde esperava que
Deus lhe desse a graça de misturar seu sangue ao sangue dos outros mártires.
Mas, esgotado com tanta atividade, sua saúde não resistiu, enquanto sua Obra se
ia difundindo. No dia de sua morte repentina, em 11 de julho de 1844, a Obra da
Santa Infância estava estabelecida em 65 dioceses. Hoje, a IAM está presente em
todos os continentes, em mais de 130 países.
Em 1922,
o Papa Pio XI a declarou Pontifícia, isto é, do Papa, e, portanto, de toda a
Igreja, juntamente com as obras missionárias da Propagação da Fé e de São Pedro
Apóstolo, às quais se uniu, em 1956 (Pio XII), a União Missionária,
constituiu-se as Pontifícias Obras Missionárias. No Brasil, ela foi trazida por
missionários franceses, em 1958. A partir de 1993, nas comemorações dos 150
anos de fundação, sua "chama ainda fumegante" readquiriu novo ardor,
organizando-se e difundindo-se em todo o país.
Os
protagonistas são as crianças e adolescentes, que se dedicam em favor das
crianças do mundo inteiro, independentemente da cultura, raça ou religião. O
nome “Infância e Adolescência Missionária” vem de uma devoção existente então
na França: a infância do Menino Jesus. Por isto surgiu com o nome de “Santa
Infância”.
É
missionária porque educa as crianças no crescimento da fé, inserindo-as nas
atividades missionárias numa dimensão universal. Pelo compromisso do batismo,
vivem concretamente a experiência da partilha da fé e seus bens com todas as
crianças do mundo.
É
Pontifícia porque se diferencia de uma atividade apostólica transitória. Sua
organização, a presença em todo o mundo, pelo seu testemunho e eficiência,
tendo sido aprovada e assumida pelo Papa (Pio XI) como Obra evangelizadora a
serviço de toda a Igreja.
Tem como
finalidade suscitar o espírito missionário universal nas crianças,
desenvolvendo-lhes o protagonismo na solidariedade e na evangelização e, por
meio delas, em todo o Povo de Deus: "Crianças ajudam e evangelizam
crianças". São crianças em favor de outras crianças. Tomando como exemplo
a vida de Jesus e de seus discípu¬los, a Infância Missionária tem em Maria, a
mãe de Jesus, uma fiel testemunha da autêntica ação evangelizadora. Inspira-se
também em São Francisco Xavier e Santa Teresinha do Menino Jesus, Padroeiros
das Missões. Ambos viveram ardentemente o carisma missionário universal, doando
suas vidas pelo anúncio do Evangelho.
Embora a
Obra tenha nascido para socorrer a triste situação das crianças chinesas, logo
abriu seus horizontes para o mundo inteiro. O resgate, o batismo, o sustento e
a educação das crianças dos povos que não conhecem Jesus Cristo foram, desde o
início, os objetivos da Infância e Adolescência Missionária. Um plano
ambicioso: prestar todos os socorros materiais, morais, intelectuais e
religiosos de que necessitam as crianças de todos os lugares, culturas, raças e
crenças.
Fonte: CNBB
Nenhum comentário:
Postar um comentário