segunda-feira, 18 de março de 2013

Artigo Padre Juarez: Arrumando as gavetas

Alguns dias atrás, resolvi arrumar as gavetas da minha mesa de trabalho. Fui percebendo que há muito tempo não parava para limpá-las e pude ver que havia acumulado muita coisa desnecessária. Abri uma por uma e não sabia por onde começar, tal era a bagunça! Sabe que eu nem percebia que estavam tão bagunçadas assim? Elas estavam sempre fechadas e eu não enxergava a desordem. Foi só começar a mexer para perceber que eu, há muito tempo, havia deixado de lado coisas que deveriam ser feitas sempre, como limpar periodicamente aquelas gavetas. Então, pus-me a limpar. Queria jogar coisas fora e, ao mesmo tempo, guardá-las, pois pensava que um dia poderia usar.
E assim me organizei: colocando de um lado o que iria para o lixo e, de outro, o que deveria ser realmente guardado para uso posterior. Mas quando terminei aquela seleção percebi que o lado que iria para o lixo não continha nada; do outro, havia guardado tudo. Resultado: não consegui jogar nada fora, pois não conseguia me organizar. Mexi, remexi e não resolvi nada.
As coisas que deveriam ser jogadas fora estavam lá, intactas e me incomodando. Mas por que não conseguia me desfazer daquilo que não prestava mais? Por que não tinha coragem de me desfazer de coisas antigas? Fui percebendo que, não por falta de coragem, mas por comodidade, não analisava com profundidade o que deveria ser descartado. Então, dava uma olhadinha por cima, mudava de gaveta e tudo continuava ali.
Em nossa vida temos gavetas e mais gavetas nas quais vamos guardando tudo e não encontramos tempo para organizá-las. Conhecemos pessoas, passamos por experiências, alegrias, tristezas e decepções e tudo vai sendo guardado nas gavetas da alma. E por não encontrarmos tempo para uma faxina nessas gavetas, chegamos a um momento que não aguentamos mais e estouramos. Essa explosão nos faz amargos, tristes e depressivos.
Começamos a buscar respostas para o que estamos passando nas coisas e nas pessoas, mas a resposta não está lá. A resposta está dentro de nós. Melhor, a resposta está em não termos tempo para arrumar nossas gavetas. Há muita coisa ruim guardada ali: rancor, desamor, ciúmes, invejas. Há também muita coisa boa, como lembranças agradáveis, amores vividos, encontros felizes. Mas tudo isso, misturado com coisa podre e ruim, fica também podre e ruim. Por isso é necessário arrumar essas gavetas em desordem na sua vida. Comece hoje mesmo.
Não, não me venha com desculpa que hoje é domingo e que vai começar amanhã, junto com seu regime – isso não cola mais! Comece agora. Abra a sua alma e coloque para fora suas lembranças e vá dizendo para você o que de bonito você já viveu. Ao lembrar, delicie-se com a lembrança, ria, solte aquela gargalhada gostosa lembrando daquele dia. Lembre-se agora das pessoas que você ama e daquelas que amam você – agradeça a Deus por isso e guarde tudo muito bem.
Agora, a parte mais difícil: lembre dos momentos difíceis, das horas amargas. Lembre-se daquela decepção, da traição, da calúnia contra você. Lembre-se das lágrimas derramadas. Vai ser duro lembrar de tudo isso, mas deixe que passe diante de você como um filme. Agora, jogue fora tudo isso. Não guarde nada. Tudo para o lixo. Como? Dizendo em voz alta para você mesma “estou jogando fora essas lembranças porque elas não me pertencem mais”.
Depois disso, volte a organizar suas gavetas com coisas boas e lembre novamente de tudo de bom que tem acontecido com você. E sorria novamente. Assim, vamos organizando nossas gavetas da alma. Pois temos acumulado muita coisa que não presta pensando em usá-las um dia. Quem sabe até guardando para usá-las como vingança. Mas isso é tudo bobagem.
Em nossas gavetas interiores só devemos guardar coisas boas. O que não presta não lhe pertence, mas pertence ao lixo e você não é lixo e nem lixeira. Não transforme sua existência num depósito de lixo, acumulando coisas que devem ser descartadas. Você é mais. Você é imagem e semelhança de Deus.

Padre Juarez de Castro

Fonte: Revista Viva Mais

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