sábado, 28 de setembro de 2013

A Cena Cultural em Israel


Me lembro perfeitamente de quando comecei meu caminho no mundo das artes e constantemente ouvia sobre as infindáveis opções culturais nesse pequeno espaço de terra. Entretenimento para todas as idades, línguas e “espécies”. Programações noite a dentro (que realmente vão até o amanhecer), pequenas casas de shows, teatros escondidos dentro de estação de ônibus (que lotam todas as noites), feiras de arte, música e moda em todos os cantos.

Na cena musical desde shows dos mais especiais como Madonna e Barbra Streisand, a Orquestra Filarmônica de Israel conduzida por Zubin Mehta até festivais de música electro-indie no deserto, que acontecem a 1 hora da cidade, e que nos fazem sentir como se estivéssemos em um tipo Woodstock por algumas horas. Encontros mais íntimos de cantores com seu fãs em pequenos bares nas ruas conhecidas pela boemia da cidade como Bialik, Geula, Levontin 7 e a Ozen Bar, bares em geral gerenciados por músicos de muito bom gosto, com espaço para novos e talentosos músicos assim como tradicionais e nomeados como Beri Sakharof, e que possuem programação muitas vezes do início da tarde até a manhã do dia seguinte.

 

De vez em quando comparo os dias e noites daqui com outras grandes cidades no mundo e me dou conta da rapidez que os minutos passam e da intensidade feroz da vida em Israel.

No mundo do teatro, no qual adentrei não faz muito tempo, a novidade está no circuito alternativo. Acredito que isso vem acontecendo em virtude do cansaço do público frente aos antigos assuntos como judaísmo, holocausto, Tanach… O mundo do teatro alternativo tem ganhado mais e mais espaço. A situação econômica dos artistas frente aos grandes teatros como Habima (Teatro Nacional) e HaCameri não tem sido simples e os mesmos tem aderido de forma massiva a casas como Tzavta (Ibn Gvirol), Teatro HaSimta (em Yaffo) e Teatro Tmunah (no sul de Tel Aviv), onde faço a curadoria e produção de arte da peça “חלום על נייר זכוכית” (Chalom Al Niar Zchuchit), lenda urbana sobre sonhos e valores na sociedade hoje. As obras nestas casas de teatro vem a ser mais ligadas com o cotidiano do público e também dos atores. Obviamente com preços mais acessíveis, o que tem lotado suas salas. Dessa forma Tel Aviv vem criando pequenos Sohos e bairros como Florentin, Neve Tzedek e Yafo imitam a vida como a vida imita a arte.

O que talvez faça uma grande diferença no espectro cultural do pais, principalmente daqueles que vivem perto ou nos próprios centros urbanos, é a necessidade de aprendizado e a importância que a arte-educação tem na sociedade. Cá entre nós não se pode dizer que o israelense (e coloco dentro deste termo todos aqueles que nasceram aqui ou imigraram jovens) é o supra sumo da cultura… No fim das contas vivemos aqui numa miscelânea de identidades e na conhecida “cultura do grito”  (por que querendo ou não vivemos todos no  Oriente Médio acreditando que somos diferentes dos que nos rodeiam, mas isto é assunto para outro momento), porém ainda me impressiono com a quantidade de famílias inteiras que chegam aos museus na Noite Branca (noite em que a cidade está repleta de eventos e os espaços culturais tem entrada franca) e em todo decorrer do ano também. Um outro fator importante na observação das razões de porque este meio é tão rico é o sucesso do termo arte-educação.

Um dos melhores museus para exemplificar esta realidade é o Children’s Museum, onde sou responsável pelo desenvolvimento de conteúdo e faço parte do grupo de curadoria, que é localizado em Holon, a 20 minutos de Tel Aviv, cidade conhecida hoje em dia como cidade da cultura e do esporte. O museu é vivenciado de forma experiencial através de uma visita guiada com o objetivo que o visitante rompa com conceitos pré-existentes frente a uma diferente realidade.

No museu encontramos a exposição “Diálogo com o Escuro”, onde por uma hora o espectador não vê absolutamente nada e tenta se colocar no lugar de um deficiente visual, acontece o mesmo em “Convite ao Silêncio”, onde o público passeia no universo de surdos via diversas atividades, “Diálogo com o Tempo”, onde nos colocamos no lugar de um velho e por último “Na altura dos Olhos”, que traz artes para crianças de forma muito mais acessível. Ou seja, famílias inteiras desde os 2 anos de idade até 120 passam o dia dentro do museu, que está sempre lotado, principalmente na época de festas.  Em Holon estão também o Museu de Comics e o Museu de Design, o último conhecido mundialmente por sua arquitetura. O Museu de Arte de Tel Aviv também possui um belo departamento de educação, para todas as idades, munido de importantes profissionais das artes.

E por último a obra prima: Israel Museum. Localizado em Jerusalém, além dos pergaminhos do Mar Morto, toda a parte arqueológica e judaica é dono de um dos acervos de artes visuais mais ricos que já tive a honra de presenciar. O museu está entre os 10 maiores do mundo e talvez a parte mais especial do mesmo seja o departamento jovem, o que faz o museu tão acessível e visitado. Esse departamento funciona todos os dias, é subsidiado por diversos doadores e tem como objetivo simplificar e aproximar o grande público às artes. Está constituído de workshops, uma grande biblioteca de livros infanto-juvenis – a única do mundo organizada alfabeticamente pelo nome do ilustrador e não do autor – e exposições itinerantes de grandes nomes como Escher, Picasso e também de estudantes. Eu diria que o ponto comum e especial entre todos os museus que citei acima é o espaço que possuem para atividades didáticas, ou seja, arte-educação e trabalho que fazem para aproximar o público em geral das artes.

 

Para aqueles que seus parâmetros de tamanho são única e exclusivamente medidos a metros realmente seu lugar não é por aqui. É possível que o Israelense se orgulhe em dizer que Tel Aviv é uma pequena Nova Iorque, no entanto eu me orgulho muito mais em dizer que ela é uma pequena megalópole, rica em diversidade de pessoas ligadas pela sua cultura, que tem muito em comum com a Big Apple porém cheia de charme encantos do Oriente Médio.

 

Fonte: Conexão Israel


Nenhum comentário:

Postar um comentário