segunda-feira, 21 de abril de 2014

Artigo Padre Juarez: Quando eu era criança…

Quando eu era criança, brincava de polícia e ladrão nas ruas. Tinha um daqueles revólveres de brinquedo em que se colocava espoleta. Sabíamos muito bem o que era fantasia e realidade. Tínhamos noção plena de que não éramos nem polícia e muito menos ladrão e sabíamos que aquele revólver de espoleta não era de verdade. Éramos ensinados a reconhecer o certo e o errado, a brincadeira e a realidade – afinal, ninguém nos considerava tão bobocas a ponto de achar que íamos nos tornar assassinos por brincar de polícia e ladrão. Os tempos mudaram e proibiram-se as brincadeiras que remetessem a tiros. Disseram que poderiam influenciar na educação. Hoje, com todas as restrições pedagógicas, a violência entre jovens aumentou. Será que perderam a capacidade de distinguir a arma de brinquedo da real?
Quando eu era criança, recebia e dava apelidos na escola. Era na escola que a gente brigava depois da aula e era na escola que eu aprendia a me defender de alguma gozação. Cresci sabendo dizer que não aceitava o apelido que haviam me dado, bem como sabia sublimar algum deboche me colocando acima da situação – tudo isso ajudava a formar meu caráter e personalidade. Não me lembro de ter pedido à minha mãe para que fosse tirar satisfação com meus colegas porque havíamos brigado. Não me lembro de ter ficado traumatizado por ter recebido apelido. Então, hoje, por cuidado exagerado dos pais e professores, todo confronto entre crianças virou “bullying”. É verdade que existe o “bullying” – a violência física e moral que chega a traumatizar a pessoa – isso é danoso e deve ser combatido. Mas elevar todas as briguinhas de escola ao nível de bullying é evitar que a criança cresça superando os desafios e vencendo medos.
Quando eu era criança, sabia que não podia ter todos os brinquedos anunciados na televisão. Meus pais me ensinavam e me educavam dizendo que eles não podiam me dar. Aprendi o valor do dinheiro e o esforço que meus pais faziam para me criar. Agora inventaram uma lei que proíbe propagandas destinadas às crianças, para que não sejam influenciadas pelo mercado. Quanta bobagem!
Essas restrições são tentativas do Estado de roubar dos pais a tarefa de educar os filhos. Alto lá, essa missão é dos pais – ora, quem pariu Mateus que o embale! Será que não estamos tendo um cuidado exagerado com nossos filhos não permitindo que eles reconheçam seus limites? Será que não estamos impendido-os de se chocarem com seus limites e, assim, perceberem que não são donos do mundo? Estamos criando filhos tirando deles a possibilidade do erro. Daí, tiramos deles a possibilidade da crise que os faz crescer e amadurecer. Infelizmente, os pais, querendo o melhor, acabam fazendo o pior. Educar não é fazer o caminho pelos nossos filhos, mas caminhar ao lado deles.
Padre Juarez de castro
Fonte: Revista Viva Mais

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