Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
O gesto de Jesus
pedir a São João Batista para ser batizado, significa que humildemente Ele
rompe todas as divisões e faz de cada um que O Segue, um novo povo, o povo da
nova e eterna Aliança.
João dizia:
“Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar
para desamarrar suas sandálias. Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará
com o Espírito Santo”. Se o batismo de João era um batismo de conversão, de mudança,
de vida, porque Jesus quis se fazer batizar? Jesus se fez batizar para
demonstrar que a partir daquele gesto de humildade dava-se início ao seu tempo
público de anúncio da Salvação e de pregação do Reino.
E o Espírito
Santo que desceu sob Nosso Senhor Jesus Cristo, como fala o próprio Evangelho:
“Naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galiléia, e foi batizado por João no
rio Jordão. E logo, ao sair da água, viu o céu se abrindo, e o Espírito, como
pomba, descer sobre ele. E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado, em ti
ponho todo meu bem-querer”(Cf. Mc 1,9-11).
Por isso o
prefácio próprio da Solenidade de hoje resume bem o espírito que deve nos
animar: “Hoje, nas águas do rio Jordão, revelais o novo Batismo, com sinais
admiráveis. Pela voz descida do céu, ensinais que vosso Verbo habita entre os
seres humanos. E pelo Espírito Santo, aparecendo em forma de pomba, fazeis
saber que o vosso Servo, Jesus Cristo, foi ungido com o óleo da alegria e
enviado parara evangelizar os pobres”.
Sim, a evangelização
inicia-se com o nosso batismo. Por isso vamos rezar, insistentemente,
agradecendo a graça de ter nascido católico. Rezemos pelos nossos pais que nos
levaram a pia batismal, pelo sacerdote que nos batizou e pelos nossos padrinhos
que ajudaram nossos pais e mães a nos educarem na fé. O batismo gera este
compromisso novo, esta graça santificante, que nos lava do pecado original e
nos anima a caminhar unidos com a Igreja, sacramento do Reino de Deus, vivendo
com alegria a graça que recebemos.
Quem é batizado
vive a justiça e promove a paz. Isaías sinaliza para nós que: “Eu, o Senhor, te
chamei para a justiça e te tomei pela mão. Eu te formei e te constituí como o
centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos,
tirares os cativos da prisão, livrares do cárcere os que vivem nas trevas”(Cf.
Is 42,6-7). Se batizados somos criaturas novas não podemos viver como se
vivêssemos nas trevas e no erro. Nestes dias, na Europa, quantas pessoas foram
vítimas do terrorismo. Mesmo no Brasil, nas grandes cidades, quantas pessoas
são assassinadas friamente e nem notícia são mais para a grande imprensa.
Vivemos um tempo difícil de violência, de perseguições de toda a sorte, dentro
e fora da Igreja, no mundo, na sociedade. Parece que as palavras proféticas e o
testemunho do Papa Francisco não ecoam nas instâncias da Igreja. Muitos vivem
apenas como diplomatas e não como discípulos-missionários de Jesus Cristo. O
Cardeal Moreira Neves, certa feita, disse: “Não sejamos homens que vivem a
dizer que querem os agnósticos ouvir. Sejamos homens de atitudes e de palavras
que sejam coerentes, absolutamente coerentes com o Evangelho”. E a coerência
com o Evangelho passa pelo batismo. Pela transmissão integral da fé, não em
consonância com as instâncias de poder, mas em consonância com a Palavra de
Deus. Do céu, nos dias de hoje, continua ecoando a voz do Pai: “Tu és o meu
Filho amado, em ti ponho meu bem-querer”.
Fonte: CNBB
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