Dom
Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)
Jesus se identifica
aos apóstolos de várias maneiras. Como para os humanos nem sempre é fácil
entender as coisas sobrenaturais, usa de parábolas, comparações e alegorias.
Depois de se apresentar como o Caminho, Verdade e Vida, de revelar-se como Bom
Pastor das ovelhas e porta do redil, se compara à videira da qual fazem parte
os ramos e os frutos. Tal comparação é uma consolação para os que nele creem e
o amam de verdade, pois ele os inclui na sua própria identidade. “Permanecei em
mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo se
não permanecer na videira, assim também vós não podeis dar fruto se não
permanecerdes em mim” (Jo 15, 4).
São Paulo compara o
corpo de Cristo à Igreja (cf I Cor. 12, 12-14). Ela, na verdade, é o corpo místico
do Senhor. Somente pertence a ela, quem pertence a Cristo.
A comparação da
videira já havia sido utilizada pelos profetas Isaías, Jeremias e Ezequiel
referindo-se ao povo de Israel. Porém, o povo de Israel na história se revelou
infiel e não produziu os frutos esperados. Eis a razão pela qual o Senhor se
apresenta como a Verdadeira Videira. Quem está nele, unido a ele que é o
tronco, este necessariamente produz frutos de caridade, de bondade, de justiça,
de fraternidade, de humildade, de serviço ao próximo, sobretudo aos sofredores.
Inúmeros são os frutos que resultam de uma verdadeira e íntima união com
Cristo. A produção de frutos que são as boas obras oriundas do mandamento novo,
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo. 13,34), são indispensáveis para
se pertencer a Cristo Jesus, de tal forma que em não produzindo-as, o Pai, que
é o agricultor, corta os ramos e os separa definitivamente do tronco. Porém,
também o ramo que produz fruto deve ser, de vez em quando, limpo, podado. São
os sofrimentos, os problemas que cada um que se decide a ser inteiramente de
Cristo tem que enfrentar. Não duvidemos: não há Cristo sem cruz, não há
cristianismo sem sacrifícios. O livro dos Atos dos Apóstolos, bem como a
história da Igreja, estão cheios de exemplos de provações, tribulações,
martírios físicos ou morais que acompanham a todos os que estão legitimamente
inseridos como ramos no tronco da videira que é Cristo.
Lembremo-nos ainda
que toda árvore é constituída de tronco, ramos, frutos, mas também de raízes e
de seiva. As raízes podem ser comparadas à parte da Igreja que vive no
escondimento dos mosteiros ou no silêncio das terras longínquas da missão.
Também podem se assemelhar à parte silenciosa em nós mesmos que devemos
renunciar a qualquer honraria humana para viver nossa fé e praticar as boas
obras. Não foi Jesus que afirmou: “que sua mão esquerda não saiba o que faz a
direita”? (cf. Mt 6, 1-4). Na árvore de Cristo não cabem exibições, como na
Igreja não se pode suportar o carreirismo e a sede de poder. Certamente os
ciúmes são definitivamente artimanhas do inimigo que deseja ver secos os ramos
da videira do Senhor.
A seiva, contudo é a
vida da árvore. Sem ela os ramos secam e acabam por desaparecer. Permanecer
unido a Cristo significa receber de sua seiva continuamente. A seiva é o
Espírito Santo, é a força do ressuscitado, é a vida da Igreja e de cada pessoa.
Assim como a seiva é praticamente invisível, a maneira de recebê-la em
continuidade é a oração que também é algo imaterial e intangível. Quem perdeu a
capacidade de rezar, começou a secar e pode se tornar lenha para a fogueira.
Sem mim, nada podeis fazer! (Jo.15, 5) afirma Jesus. Contudo, se permanecerdes
em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será
dado (Jo.15,7). Ó, como isso é consolador! Na união com Cristo está a solução
para todas as situações, ainda que pareçam humanamente impossíveis. O segredo
está em permanecer vivamente enxertados em Cristo, dele recebendo a benfazeja
seiva, para produzir abundantes frutos para a glória do Pai.
Fonte: CNBB
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