segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Artigo Padre Juarez: Quem é o verdadeiro dono da verdade?

Geraldo é torcedor fanático de seu time e não aceita discussão. Ele não tolera a possibilidade de que o time adversário possa ser, algumas vezes, melhor que o seu. Geraldo até já chegou a brigar com seu melhor amigo pelo simples fato de que ele, o amigo, não torcia para o seu time.
Luis Alberto exige que, ao chegar em casa, sua comida esteja pronta, a casa limpa e a roupa preparada para que tome seu banho depois de um dia de trabalho. Não aceita desculpas e muito menos que outro compromisso qualquer tenha atrapalhado sua mulher nos afazeres da casa.
Ana é religiosa ao extremo. Só fala disso o tempo todo. Ai de quem contrariá-la! Ana não aceita que os outros acreditem em algo que não seja a sua fé. Dias atrás, discutiu com uma vizinha e acabou falando até palavrões, só porque a vizinha não concordou com a sua opinião.
Os três relatos acima dizem respeito a pessoas que acreditam que a sua opinião é a verdadeira. Não aceitam nenhuma sugestão que venha do outro. Esse tipo de atitude tem nome: chama-se intolerância.
É uma atitude de soberba colocar-se acima dos outros e acreditar que a sua verdade se sobrepõe às demais. Há intolerantes religiosos que, em nome de Deus, humilham ou até matam. E acreditam que fazem algo justo. É o caso de Ana, que chegou a ofender vizinha com palavrões. Também é intolerante a atitude de Geraldo, que defende que torcedores de outros times devem ser banidos de seu convívio. E a intolerância também está na postura de Luis Alberto, que acha que todas as suas vontades devem ser satisfeitas pela mulher e ela não tem, portanto, o direito de ter momentos de descanso.
Intolerância é doença que corrói a sociedade. Ela se disfarça de várias formas. Está presente na família, na religião, na torcida e, muitas vezes, escondida em nosso preconceito. O intolerante geralmente é inseguro; por isso, se agarra à sua opinião cristalizada com medo de perder o lugar. Trocando em miúdos: intolerante é aquele que não tem capacidade para se afirmar a partir de suas qualidades. Ele, então, busca amedrontar os outros para não perder sua posição.
A intolerância mata, provoca guerras e abre feridas na humanidade. A grande intolerância nas religiões e nações não nasce espontaneamente, mas é cultivada dentro das nossas casas e nas nossas relações. Quando menos você espera, aquela pequena intolerância que havia dentro de você cresceu e se juntou às outras intolerâncias espalhadas pelo mundo, transformando-se num monstro que ameaça a paz. A intolerância leva ao fanatismo, que leva à cegueira e que, por consequência, leva ao ódio.
Encha seu coração de amor e encontre-se com a verdade que não é sua! Não busque uma posição superior ao outro achando que somente sua opinião vale a pena. A convicção do outro deve ser respeitada, assim como os outros devem respeitar aquilo em que você acredita. Somente encontraremos a paz quando nos colocarmos no mesmo nível do outro. Nem acima, para que não nos sintamos superiores. Nem abaixo, para que não possamos nos anular.
Quando usamos o outro como escada para subir e evoluir estamos promovendo a guerra, a discórdia e fazendo com que a paz não seja vivida. No dia em que começarmos a destruir muros e construir pontes, começaremos a abrir o caminho que nos leva à verdadeira paz e à fraternidade que sonhamos.
Nós não devemos caminhar separados, nem acima nem abaixo, nem à frente ou atrás dos outros. Devemos caminhar bem juntos, lado a lado, de modo que nossas mãos possam se tocar, unir-se e fazer com que nossos corações se tornem um só, pleno. Nesse dia, então, teremos vencido a intolerância e encontrado o verdadeiro caminho da paz.

Padre Juarez de Castro

Fonte: Revista Viva+

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