segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Artigo Padre Juarez: A virtude do equilíbrio

Meu pai era um homem sábio. Aliás, todos os pais são sábios naturalmente, pois nos ensinam a partir de suas vidas e de suas experiências. Assim, fui formado por um homem que tinha uma alma boa e um agir coreto. Ele sempre nos dava lições de vida usando provérbios, citações e frases de efeito. Gostava disso. Arriscava em outras línguas para nos fazer crescer como homens dignos e, volta e meia, escutava um desses provérbios em latim.
Foi de meu pai que escutei certa vez: “Cuidado, muito azeite apaga a vela”. O quê? Perguntei, estupefato e sem entender. “Isso mesmo”, meu pai repetiu candidamente: “Cuidado, meu filho, muito azeite apaga a vela”. Em seguida, me explicou que, quando usamos uma lamparina a óleo, precisamos ter cuidado com a quantidade de azeite.
Ora, uma lamparina é um artefato simples: é um recipiente no qual se coloca azeite e um pavio. Mas o segredo do seu funcionamento está na quantidade do líquido. Muito óleo encharca o pavio e este apaga a chama. Pouco azeite não embebe o pavio devidamente e a chama não vinga. O segredo está no equilíbrio ou, como diziam os filósofos, a virtude se encontra no meio. Nem muito, nem pouco. Na medida exata.
Meu pai havia acabado de me dizer isso para me ensinar a agir no mundo buscando a temperança e o equilíbrio nas coisas. E como isso é importante! Basta ver que quando exageramos em alguma dimensão da nossa vida acabamos nos dando mal. E assim é na religião, no amor, na economia…
O amor é sempre a resposta para muitos problemas, mas amar demais pode ser um problema. Há pessoas que amam tanto que esquecem de se amar e aí o amor fica desequilibrado. Ao amar desesperadamente o outro, a pessoa aniquila a si própria e o relacionamento dá lugar a uma espécie de devoção. Por isso, Jesus já deixou claro que a medida para amar o outro é amar a si próprio. Da mesma forma, o equilíbrio precisa existir na nossa relação com Deus. A religião é libertadora e nos deve levar a um relacionamento de harmonia com o Criador. Não podemos transformar a religião num instrumento de castração e autoritarismo e nem podemos fazer com que a religião domine todas as dimensões de vida, pois corremos o risco de nos tornar fanáticos.
O fanatismo turva a razão. Falar somente de religião e não dar espaço a outras conversas prazerosas pode nos levar à alienação. Além da fé, temos outras dimensões que precisam ser vividas. Além da religião, há a dimensão social, a econômica, a sexual, a política… Não se esqueça do filósofo Aristóteles, que dizia que a virtude estava no meio. Ou melhor, lembre-se, assim como eu faço sempre, das palavras de meu pai: “Muito azeite apaga a vela”.

Padre Juarez de Castro

Fonte: Revista Viva Mais

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