Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales
Bispo de Jales
O assunto pode parecer sem sentido.
Ou inadequado. Ou ao menos inoportuno. Mas não faz mal colocar algumas
ponderações, que encontram fácil justificativa no contexto de mais um dia de
finados, seguido do dia de todos os santos.
Com estas duas celebrações, a
intenção da liturgia é franca e sem rodeios. Ela nos convida a pensar no final
da vida, e no destino que nos aguarda após a morte. E de uma maneira mais
ampla, no presumível “fim do mundo” , que a finitude da natureza nos garante
como certo!
Dependendo de circunstâncias
aleatórias, com frequência volta às manchetes a previsão de que o fim do mundo
está próximo, às vezes até com data marcada.
Se olhamos com atenção o depoimento
dos Evangelhos, percebemos que no tempo de Cristo havia um forte movimento
escatológico. Ele se conectava facilmente com as grandes expectativas do povo
de Isael, forjadas todas elas na esperança de uma manifestação divina em seu
favor.
Podemos perceber a presença desta
visão escatológica, na breve síntese da pregação inicial de Jesus, que Marcos
nos apresenta: “Completou-se o tempo, o Reino de Deus está próximo,
convertei-vos, e crede no Evangelho.”
Assim fazendo, Cristo valorizava as
expectativas do movimento escatológico, canalizando-as para a mensagem que ele
tinha a transmitir. Como precisava alertar a todos para que se dessem conta do
que estava por acontecer, ele aproveitava o clima de expectativa escatológica,
que servia para alertar o povo.
Enquanto o povo era motivado pelos
presságios de grandes acontecimentos, Jesus aproveitava para confirmar que, de
fato, estavam próximos eventos importantes, onde ele mesmo seria o protagonista
principal., no contexto do “mistério pascal”, que incluía sua paixão, morte e
ressurreição.
Com esta finalidade Jesus assimilava
o linguajar escatológico dos profetas,valendo-se dele para armar o cenário em
que ele iria cumprir a missão recebida de Deus.
Ao mesmo tempo que utilizava o gênero
literário apocalíptico, Jesus se empenhava em explicar que as expectativas dele
eram bem diferentes das expectativas do movimento escatológico. Estas
facilmente estreitavam as esperanças do povo dentro da visão acanhada de
derrotas a infligir a vizinhos e inimigos.
Algumas passagens do Evangelho trazem
com tanta ênfase as expectativas escatológicas de Jesus, que pareceria ter-se
equivocado. Pois ele chegou a afirmar: “esta geração não passará, até que tudo
isto tenha se cumprido” (Mc 13,30).
Sua vontade de cumprir por inteiro
sua missão, o levava a diluir as fronteiras entre o presente e o futuro.
Do ponto de vista da fé cristã,
podemos olhar o futuro de nossa vida e do próprio mundo com serenidade. Pois o
grande evento se realizou, na pessoa de Cristo que, “uma vez por todas”,
ofereceu sua vida “em resgate pela multidão”. Este é o grande fato, que Jesus
predizia, e que a Igreja vive nas três dimensões do tempo: o passado, que é
recuperado pela memória e se torna presente pela celebração, que por sua vez
aponta o futuro, antecipando sua plenitude que um dia se manifestará.
Como Cristo, nós também vivemos as
três dimensões do tempo, até o dia em que se tornará eternidade.
Fonte: CNBB
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