segunda-feira, 8 de abril de 2013

Artigo Padre Juarez: Franqueza ou grosseria?

Eu ouvi. Ninguém me contou. Escutei com esses ouvidos “que a terra há de comer”, como se dizia lá em Minas. Escutei a madame ao meu lado dizer para a outra: “Sua roupa está muito ‘feinha’ para vir à missa”. Depois, ainda emendou “me desculpe, mas eu sou muito franca”. O comentário nem foi assim tão maldoso, afnal, que diferença faz o estilo da roupa que coloco para isso ou para aquilo? O que realmente me preocupa é essa afrmação: “É porque eu sou muito franca”.
Facilmente as pessoas confundem grosseria com franqueza, por isso maltratam os outros, tratando-os como se fossem animais que devem ser açoitados – aqui, no caso, com palavras “francas”.
Nunca aceitei muito essa coisa de dizer tudo que me vem à cabeça. Muitas pessoas acham isso uma virtude, eu acho um defeito. Aquele que diz tudo o que pensa extrapola o limite do razoável e se coloca numa posição intolerante. Ora, por que tenho que escutar todas as baboseiras que saem da boca daquele que se acha o máximo? Não é porque você diz tudo que pensa que tenho que escutar coisas que poderiam ser guardadas na sua mente e não nos ofender com baixarias em nome da franqueza.
Justifcar-se dizendo “falo o que dá vontade” é se achar melhor do que os outros, submetendo todos às suas opiniões e convicções. Nem tudo que você pensa é bonito e deve ser acolhido por todos. Nem todas as pessoas têm obrigação de ouvir aquilo que você acha que todos têm que ouvir.
A tal franqueza é, muitas vezes, utilizada para disfarçar uma falta de educação. Pessoas que agem grosseiramente e não querem admitir que são indelicadas justifcam-se dizendo serem francas e falarem sempre a verdade.
Há ainda aqueles que usam a pseudofranqueza para humilhar os demais e utilizam essa desculpa para apontar um erro e menosprezar o outro em público.
A tal franqueza é, também, usada para esconder uma falta de tato no relacionamento social. Pessoas que não sabem se comportar com o outro, em sociedade, se arvoram em se dizer francas para agir da maneira que elas bem entendem.
Não quero dizer aqui que não precisamos falar sempre a verdade ou expor nossas opiniões, mas nem toda verdade precisa ser dita em determinadas horas. E, vamos ser sinceros, há lugares e momentos certos para se falar a verdade.
Havia um ditado entre os romanos que pode muito bem nos orientar como agir: “Aos amigos se chama atenção em silêncio, mas se for pra elogiar que se faça em público”. Essa é uma regra de ouro. Se você realmente considera aquela pessoa como amiga e por ela tem apreço e carinho, corrija-a em silêncio, com respeito, caridade e ternura. Mas se for pra elogiar, que isso seja feito aos quatro ventos e diga pra todos as qualidades dessa pessoa. Isso, sim, é uma atitude digna e respeitosa e não se travestir de justiceiro e usar aquela pseudofranqueza para diminuir e humilhar quem está ao seu lado.
Na próxima vez que você precisar corrigir alguém lembre-se do que acabamos de conversar, mas lembre-se também que em nossa boca sempre soa melhor um elogio e não uma crítica ácida e maldosa.

Padre Juarez de Castro

Fonte: Revista Viva Mais

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