segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Volte no tempo e refaça escolhas

Padre Juarez de Castro
Há alguns dias precisei fazer uma viagem de avião. E, confesso, embora tenha voado muito ultimamente, morro de medo de decolar. Na última viagem, para meu desespero, sentei-me ao lado janela. Depois de certo tempo – e com um pouco mais de coragem –, comecei a olhar para baixo. Vi plantações, casas e cidades. Porém, o que chamou mesmo minha atenção foi um rio. Era enorme, extenso… Naquele momento, me encantei com a paisagem sem nem mesmo saber o nome dele.

O curso da água me atraía pelo caminho percorrido. Ele serpenteava, fazendo muitas voltas e várias curvas. Algumas, de tão acentuadas, quase chegavam a se encontrar. Da minha posição privilegiada, a quase 11 mil metros de altura, conseguia seguir com os olhos todo aquele traçado sinuoso. Então, naquele momento, questionei o Universo.

Do alto da minha petulância achei ter encontrado um erro na ordem estabelecida pelo Criador. Afinal, por que a natureza, tão sábia, não poderia poupar os esforços do rio e fazê-lo cumprir seu caminho em linha reta? Logo depois eu mesmo percebi a resposta para a pergunta sem cabimento: ”Não, não podia!”.

Na passagem daquelas águas, a vegetação era verde, a terra fértil e o gado conseguia matar a sede com facilidade. Assim, aqueles caminhos beneficiavam um número enorme de plantações, pessoas e animais que dependiam da água formada pelas curvas. Se seguisse em linha reta, pouquíssimos seres poderiam aproveitar tanta riqueza. Comecei a pensar nas curvas da nossa vida.

Tal como o rio, nossa existência também tem dobras e, quase sempre, as julgamos desnecessárias. Às vezes, achamos que os acontecimentos poderiam ser mais simples, seguindo um caminho reto. Mas, assim como as entranhas daquele rio fazem brotar a vida verde em mais lugares, as curvas da nossa história – que nessa hora parece até andar para trás – nos tornam pessoas mais sábias, fortes e felizes.
As voltas da nossa vida, acredito, são como momentos difíceis de uma relação. Elas podem representar as dores vividas por situações que parecem, a princípio, sem solução. São experiências de perdas e superações de traumas. E quantas idas e vindas nossa vida dá, não é mesmo? E elas são necessárias! Pois não nos permite ir muito rápido. Logo, caminhamos e amadurecemos no tempo certo.

As curvas nos fazem voltar atrás em algumas posições cristalizadas para, assim, buscarmos a felicidade. Os percursos tortuosos nos auxiliam a repensar o passado para decidir melhor o futuro. Assim, as reviravoltas, inclusive, nos colocam frente a frente com quem precisa do nosso perdão. Enquanto voava, confirmava como o trajeto daquele rio se parece com o da nossa existência! Se as águas sinuosas florescem os locais por onde passam, as voltas da vida nos conduzem novamente aos ambientes e situações que, um dia, deixamos sem explicações, oferecendo uma segunda chance de consertar estragos cometidos.

Se o destino do rio cruza a terra, os caminhos do dia a dia irrigam o coração com o perdão e o amor. Eles me fazem rever o lugar e o tempo no qual, um dia, talvez tenha desperdiçado a oportunidade de demonstrar amor. Portanto, se sua vida fizer algumas curvas, não questione. Saiba: elas são necessárias para que você, ao atravessá-las, seja uma pessoa bem melhor.

Fonte: Revista Viva Mais

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