segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Dó, nunca! Compaixão, sempre!

por Padre Juarez de Castro

Diante do sofrimento alheio, já vi muita gente com pena a ponto de perder o sono, de chegar às lágrimas… Atitude, em princípio, corriqueira. Afinal, todos nós ficamos sensibilizados com a dor do outro. Quando um episódio assim acontece, a tristeza aflora em nosso coração. E, erroneamente, consideramos isso suficiente para ajudar o próximo a se levantar.
Para quem não sabe, dó vem do latim dolor, que significa “dor”. Já dolere, também do latim, é sinônimo de “sentir” ou “causar dor”. Logo, essa palavra é sinônimo de sentir dor. Acredite, faz sentido! Afinal, o que fazemos quando a pena brota em nossos corações? Geralmente, nada. Isso mesmo: ficamos só no sentimento, na emoção e na tristeza de ver o tormento de quem gostamos. De certa forma, apenas olhamos para a desilusão de alguém e continuamos nossa caminhada sem produzir qualquer tipo de auxílio na vida daquele que nos despertou clemência. Logo, a pena não resolve o problema! E mais: ter dó é, de certa forma, diminuir uma criatura ao nível do “digno de dó”. Meu conselho? Não alimente essa sensação por ninguém!
Ao notar que alguém sofre e precisa de ajuda, tenha compaixão! Essa, sim, uma percepção nobre. Ela vem da união das palavras gregas com e pathos. A tradução: “sentir” ou “sofrer com”. Esse sentimento não é distante e estéril como a piedade. Ele significa sofrer junto e se afundar no lamaçal da desgraça do outro para, unidos, vencerem.
Certa vez, enquanto Jesus pregava para uma multidão, percebeu os ouvintes famintos. Então, sentiu compaixão. Por isso, Ele reuniu forças e multiplicou os pães e os peixes para alimentar todos. Caso tivesse sentido dó, aquele povo voltaria para casa com fome. Por quê? Ora, porque Ele não teria se colocado na posição do sofredor. E, sem imaginar a tristeza alheia, não mudaria a situação. No entanto, quem tem compaixão sente, padece e chora junto, esforçando-se para minimizar a tragédia de terceiros. Com essa lição de Jesus, fica a mensagem: não apenas multiplique o pão, mas a vontade, o tempo e o desejo de fazer o bem; não multiplique só o peixe, mas o amor que existe dentro de nós para alimentar o irmão e, assim, ajudá-lo a se fortalecer em busca da vitória.
Então, eis a pergunta: diante de quem sofre, devemos sentir dó ou compaixão? Se, mesmo depois dessa explicação toda você ainda escolher a favor da primeira opção, saiba que você não fará a menor diferença aos seus amigos e parentes, pois qualquer um sente, basta ter o mínimo de sensibilidade. Porém, a segunda escolha é algo para quem é capaz de ir além e empenha-se em transformar a realidade dos infelizes por meio de sua presença amorosa e corajosa. Além disso, essa percepção generosa a coloca na posição do outro. Assim, você passa a sentir “como” e com o “próximo” a ponto de estender-lhe as mãos e auxiliar, assim como Jesus fez na multiplicação do pão.
Hoje, mais do que nunca, o mundo precisa de uma dose extra de boa vontade. Ou seja, de atitudes amplas e capazes de transformar o universo em um lugar cheio de solidariedade e comprometimento. Chega de sentimentos piedosos! Precisamos de corações valentes e profundamente amorosos. Afinal, amor verdadeiro está acima de qualquer coisa e se envolve com o próximo para que o outro seja cada vez mais pleno e feliz.
Fonte: Revista Viva Mais

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