segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Para entender a sua saudade

por Padre Juarez de Castro

 “Saudade, bichinha danada que em mim fez morada e não quer se mudar”. É assim, na canção Guarânia da Lua Nova, que o grande compositor e cantor brasileiro Luiz Vieira define esse sentimento tão peculiar. E ele arremata a música com os versos: “Saudade tem gosto de jiló verdinho”. Ou seja, para ele, é amarga! Será?
Antes de investir na tentativa de uma resposta, devo considerar que, provavelmente, nem todo mundo já provou o sabor do jiló. No entanto, tenho certeza que todos já sentiram algum tipo de saudade. Seja dos tempos de criança, do amor não esquecido, do cheiro bom daquela comida gostosa, de quem não está mais aqui, do filho que, mesmo com tanta vida para viver, morreu tão jovem…
Dizem que a palavra vem do latim solitatis e significa solidão. Ah, ainda há quem a defenda como um termo em português sem tradução para outras línguas! Ele teria sido inventado pelos descobridores do Brasil para expressar a falta sentida da terra de origem. A partir daí, a famosa expressão caiu no gosto dos poetas, que não finalizam uma estrofe de amor sem citá-la, e dos cantores, que costumam cantá-la com um gemido na alma.
Apesar de ser um sentimento universal, também é algo estranho. É que às vezes dói, machuca. Porém, em outros momentos, nos faz esboçar um sorriso no canto dos lábios. E acredito que isso seja bom nos dois casos. Afinal, a lembrança saudadosa nos transporta ao passado para imagens, perfumes e sabores guardados na memória. Eu defendo: só sentimos falta do que queremos manter vivo dentro de nós.
Sim, saudade dói, pois remexe no passado e faz cada um de nós encontrar-se consigo mesmo. Sim, ela machuca, pois nos coloca diante daqueles que não estão mais diante de nós. Mas tudo isso mostra o quanto nossa história é rica!
Claro, em alguns momentos tentamos “matar a saudade”. Como? Olhando fotografias, escutando uma música, trazendo à mente momentos dispersos na história… Só que não é possível matá-la! Ela não desaparece, não vai embora, não morre – está escondida nas conversas e nas lembranças pálidas.
Algo é fato: só sentimos falta do que amamos! Logo, isso se traduz como uma extensão do amor, uma forma de amar. Esse sentimento fortalece a ligação com aqueles que perdemos de alguma forma ou com alguém distante. Então, mesmo na dor, ele é bom, já que fortalece os laços com os outros, independentemente de estarem presentes ou não.
De qualquer forma, a saudade tem algo que ultrapassa a simples melancolia ou os olhos marejados pelas lembranças. Ela carrega uma força capaz de nos transportar para os mais diferentes lugares e situações. E o mais incrível: tornar inesquecível um determinado momento.
Acredite, ela pode ainda mais! Tem a capacidade de trazer a certeza de um dia estarmos de novo com alguém perdido ou distante. Ela alimenta a esperança de uma nova chance. Por isso, mesmo dolorida, traz a marca da felicidade, a garantia do reencontro alegre e da vitória tão esperada ao longo do tempo.
Sim, a saudade até pode ser amarga como um jiló verdinho. Mas é verdade também que ela prepara nosso coração e nossa alma para, lá na frente, um encontro com sabor extremamente doce.
Fonte: Revista Viva Mais


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