quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Maria e o Diálogo Inter-Religioso

Promover o entendimento entre as religiões em nome da paz, da justiça e do amor.

Quando falamos em diálogo, falamos em escuta respeito e entendimento entre as pessoas. O que não quer dizer que ao dialogar todos precisam concordar com todos e com tudo. O diálogo supõe a diferença, só é [possível dialogar com diferentes, em busca de comunhão. As religiões devem sempre devem buscar o diálogo para não de isolarem umas das outras ou o que é pior: levadas pelo fanatismo, colocarem umas contras as outras. Nesse Sentido, é necessário buscar sempre os pontos em comum, debruçar-se sobre o que une, para daí construir um diálogo que favoreça a colaboração e o entendimento entre as religiões; desta forma propiciando a elas que, unidas, trabalhem pela justiça e paz, valores que sinalizam a presença do Reino de Deus.

          O Papa Paulo VI em sua encíclica Ecclesiam Suam, ao falar do diálogo que a Igreja deve ter com o mundo, assim se expressa: “Não é em vão que a Igreja se diz Católica. Não é em vão que esta encarregada de promover no mundo a unidade, o amor e a paz” (ES 53). A paz no mundo vai depender vai depender muito da paz das religiões.

          Quando falamos em Maria no diálogo Inter-Religioso, em primeiro lugar é necessário abordar o diálogo entre as religiões ou denominações cristãs. Nelas a figura de Maria tem uma presença forte e marcante em algumas como a católica, a Ortodoxa, e uma presença mais marginal em outras, como nas luteranas e evangélicas. Onde reside a fonte das divergências intereclesiais na visão de Maria? Não reside na leitura diferente do Novo Testamento embora existam variantes, mas, sim, no fato de que as várias Igrejas e denominações avaliam de modo diferente cada um dos elementos e textos do Novo Testamento referentes a Maria.

          Apesar disso, cada vez mais se torna mais claro e aceitável, a partir de estudos e reflexões mais desapaixonadas, que o Novo Testamento apresenta uma evolução na imagem e no papel de Maria, como o Grupo de Dombes (cf. Maria no desígnio de Deus e a comunhão dos Santos, Ed Santuário, Aparecida, 2005), que oferecem contribuições valiosas para o diálogo entre as Igrejas cristãs sobre Maria.

          No livro citado, assim escrevem os camponeses do grupo de Dombes: “Nosso percurso histórico nos mostrou que a divisão entre nós aparece no memento em que Maria é isolada da fé do Cristo e da comunhão dos santos, que a devoção se concentra exageradamente nela. Assim, do lado católico, a mariologia foi indevidamente separada da cristologia e da eclesiologia. É por isso que a decisão do Vaticano II inserindo o texto sobre Maria na constituição sobre a Igreja é um gesto de grande significação para nossa reconciliação ecumênica. Do lado protestante, se reconhece que uma justa confissão do cristo exige uma palavra sobre Maria, em nome mesmo da encadernação”.

          De fato, Maria não é centro da fé, o centro de Jesus Cristo, porem, Maria faz parte deste centro porque esteve e está intimamente ligada a Cristo de forma impar não só como mãe, mas como a primeira entre os seus seguidores, a bem aventurada porque acreditou.
           Na nossa realidade, o diálogo sobre Maria, deve se entender também denominações afro. As tradições afro brasileiras, como o candomblé e as varias umbandas penetraram não apenas as classes pobres, mas também as classes médias. A figura de Maria se modifica ao passar do catolicismo oficial para o catolicismo popular, e novamente se modifica ao passar para as tradições religiosas afro-brasileiras. Nestas, Aparecida é conceição é Mãe, Oxum deusa das águas doces podendo ser também Iemanjá, a Senhora do Mar.

           Em sua obra Nossa Senhora e Iemanjá, frei Clodovis Boff fala sobre a pastoral da Igreja e a inculturação e coloca a pergunta: O que significa, para a pastoral da Igreja, o atual sincretismo afro-brasileiro ? O diálogo inter-religioso neste sentido segundo o autor se dará incluindo a inculturação da imagem de Maria na cultura afro-brasileira e acrescenta; “isso supõe uma clara distinção entre o conteúdo dogmático em Maria e as suas formas culturais... Essa distinção implica a relativização das atuais formas de inculturação de Maria, formas em grande parte europeias, em benefício de novas modalidades, mais adequadas às diversas culturas locais. 

          Consideramos que, na tradição Cristã, Maria tem muitos títulos e um deles é Mãe da humanidade, mãe dos homens. A partir da encadernação de Jesus Cristo e estando ligado a Ele, Maria ocupa um lugar especial na ordem da criação. Como disse não é o centro, mas faz parte dele por vontade de Deus que olhou a humanidade de sua serva e a exaltou. Devemos dar a devida importância ao papel de Maria no diálogo Inter-Religioso. Ela Certamente poderá unir mais e melhor as diversas religiões.

                                                             
Fonte: Turismo Religioso
Cônego Pedro Carlos Cipolini
                                                          
Doutor em Teologia e professor
                                                                          da Puc-Campinas
                                                                 Material de Aparecida.

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