quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Antiga residência de eremitas, deserto da Judeia guarda raízes do cristianismo

Localizado entre Jerusalém e Jericó, o deserto da Judeia proporcionou inspiração para milhares de eremitas que aqui viveram no início da Idade Média. Com sua beleza de tirar o fôlego, ele foi o lugar perfeito para aqueles que procuravam a completude no vazio do deserto.

Hoje, apenas alguns monges vivem aqui, mas o deserto e seus monastérios impressionantes continuam atraindo milhares de visitantes de todo o mundo.

Durante os séculos 4 e 5 d.C., ele abrigou uma comunidade de muitos milhares de monges, trazidos pelas histórias bíblicas. Distantes das tentações terrenas, eles viveram uma vida de privação e isolamento dentro de dezenas de cavernas dispersas ao longo de suas montanhas.

O desejo de seguir os primeiros passos da cristandade ainda traz peregrinos e turistas, segundo Elisa Moed, fundadora do Travelujah.com, um site religioso que oferece informações para cristãos em visita à terra santa.

"Este é o lugar onde João Batista, que era um eremita, residiu. Parte de vivenciar de verdade e de realmente entender as raízes do cristianismo é vir aqui e ver essa paisagem e tentar entender o estilo de vida de João Batista", diz Moed.

RESPIRO VERDE

Com sua fonte natural de água, o desfiladeiro de Wadi Qelt, em sua porção oeste, a 20 minutos de carro de Jerusalém, proporciona um respiro verde em meio à paisagem árida do deserto. Este é o ponto onde a Bíblia diz que viveu o profeta Elias, bem como onde os eremitas do século 5 escolheram para viver. Para lembrar que estamos no Oriente Médio moderno, os veículos são obrigados a passar por postos de controle israelenses e palestinos durante a viagem.

Os visitantes vêm para conhecer o monastério de São Jorge, construído no final do século 19 no mesmo lugar de um antigo, destruído pelos persas em 614.

Hoje, uma pequena comunidade de ortodoxos gregos reside aqui, permitindo o acesso de turistas ao lugar.

Dois anos atrás, a estrada que dá acesso ao monastério foi expandida, permitindo um número maior de visitantes, que chegam, principalmente, da Grécia e da Romênia.

Mesmo com melhorias, Wadi Qelt continua à margem da rota das excursões. Os ônibus podem chegar ao portão de entrada do monastério, mas os turistas devem caminhar ao longo de um sinuoso caminho por cerca de 15 minutos até chegar ao monastério, uma possível barreira aos mais velhos ou deficientes físicos.

Um destino mais comum nos arredores é a montanha da Tentação, a 15 minutos de carro de Wadi Qelt, perto do Mar Morto.

Localizado logo acima da entrada oeste de Jericó, o monastério da montanha está em um penhasco a 360 metros acima do nível do mar, cercado de diversas cavernas naturais.

VISITA À SOLIDÃO

Até o início dos anos 90, chegar ao monastério exigia escalar a montanha e certa dose de determinação. Hoje, um moderno bondinho o conecta à cidade abaixo, em um deslumbrante percurso de cinco minutos acima de plantações.

O monastério tem apenas um morador permanente, o padre Gerassimos, um monge grego ortodoxo de 81 anos, que passou os últimos 30 por lá.

Ao longo do ano, outros monges residem lá por breves períodos, de acordo com padre Galactio, 34, que veio da Grécia para ajudar Gerassimos por alguns meses.

Muitos dos antigos eremitas escolheram a montanha da Tentação --onde, segundo a Bíblia, Jesus foi tentado pelo Demônio-- como o símbolo da resistência ao prazeres terrenos.

Outros tantos se estabeleceram nas cavernas de Wadi Qelt. No século 5, milhares de monges viveram no que chamavam de "deserto de Jerusalém". Wadi Qelt oferecia a eles acesso fácil à cidade sagrada e, ao mesmo tempo, permitia a vida reclusa.

Essa comunidade diminuiu consideravelmente após as conquistas muçulmanas, em meados do século 7, e as guerras nos século seguintes. Dezenas de monastérios foram destruídos ou abandonados, e muitos dos habitantes, mortos.

Ainda assim, a tradição permanece. Um monge romeno era tão reverenciado que, meio século depois de sua morte, seus restos mortais continuam em exibição, atrás de um vidro, no mosteiro de São Jorge.

Fonte: Folha.com

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