sexta-feira, 13 de abril de 2012

Artigo: Fidel e o Papa

Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)



Bento XVI acaba de visitar o México e Cuba. Ele já tinha visitado o Brasil em 2007. E já tem outra viagem marcada para o nosso país, no ano que vem.

Não era conveniente visitar pela segunda vez o Brasil, sem antes ir ao menos para algum outro país da América Latina. Assim, foi ao México, e aproveitou para visitar também Cuba.

O momento mais pitoresco da visita a Cuba foi, certamente, o encontro do Bento 16 com Fidel Castro. Pelos relatos, a conversa foi uma troca de amabilidades, como convinha para o momento.

Na verdade, os recados já tinham sido dados, de maneira sutil, na homilia da missa que precedeu o encontro de ambos.

O Papa aproveitou as leituras do dia, para ir direto ao assunto.

Da história dos três jovens na fornalha, no exílio da Babilônia, sob o comando do soberano Nabucodonosor, Bento 16 tirou a lição da prioridade que a fé possui, para formar as consciências e ditar o procedimento das pessoas: “os três jovens preferiam morrer queimados pelo fogo que trair a sua consciência e a sua fé”.

Em poucas palavras, está posto o direito de todos se guiarem sua consciência pelos ditames de sua fé.

Em seguida, Bento 16 aborda o assunto que lhe é muito caro, ao qual volta com insistência: a estreita ligação entre a verdade e a liberdade, entre a fé e a razão:

“Com efeito, a verdade é um anseio do ser humano, e procurá-la supõe sempre um exercício de liberdade autêntica.”

O Papa não perde tempo. Aborda em seguida a questão das ideologias, que cegam a inteligência humana, impedindo-a de encarar a verdade de maneira livre e ao mesmo tempo comprometida.
Primeiro estigmatiza o ceticismo e o relativismo, afirmando:

“Muitos, todavia, preferem os atalhos e procuram evitar essa tarefa. Alguns, como Pôncio Pilatos, ironizam sobre a possibilidade de conhecer a verdade, proclamando a incapacidade do homem de alcançá-la ou negando que exista uma verdade para todos... como no caso do ceticismo e do relativismo”

Em seguida, o Papa questiona o fechamento ideológico, constando que ...
“Há outros que interpretam mal esta busca da verdade, levando-os à irracionalidade e ao fanatismo, pelo que se fecham na SUA verdade» e tentam impô-la aos outros.

Aí o Papa volta ao assunto que lhe é muito caro: O relacionamento entre fé e razão: “Fé e razão são necessárias e complementares na busca da verdade. Deus criou o homem com uma vocação inata para a verdade e, por isso, dotou-o de razão. Certamente não é a irracionalidade que promove a fé cristã, mas a ânsia da verdade. Todo o ser humano deve perscrutar a verdade e optar por ela quando a encontra, mesmo correndo o risco de enfrentar sacrifícios.”

Em decorrência destes pressupostos, Bento 16 aborda a questão da ética, que se constitui em plataforma comum em torno de valores fundamentais, em cuja defesa todos podemos nos encontrar.

“A verdade sobre o homem é um pressuposto imprescindível para alcançar a liberdade, porque nela descobrimos os fundamentos duma ética com que todos se podem confrontar... É este patrimônio ético que pode aproximar todas as culturas, povos e religiões, as autoridades e os cidadãos, os cidadãos entre si, os crentes em Cristo com aqueles que não crêem n’Ele”.

No contexto dos valores éticos, Bento 16 fundamenta o direito que o cristianismo tem, não de impor, mas de propor o chamado de Cristo “para conhecer a verdade que nos torna livres”.

Poucas vezes um sermão foi tão bem endereçado. Não só para Fidel. Mas para todos que desejam praticar a liberdade de pensamento, e ao mesmo tempo, assumir o compromisso com a verdade. Assim poderemos superar o fanatismo que cega, e o descompromisso que aliena.

E quem quiser se aventurar pelo caminho da fé, sempre acompanhado pela razão, poderá encontrar Jesus Cristo, “que é a verdade em pessoa e nos impele a partilhar este tesouro com os outros”.
Fonte: Portal UM

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