sábado, 14 de abril de 2012

Cesareia Marítima - Capital Romana na Judeia do Primeiro Século

Todos os anos quando costumo fazer minhas viagens por esta linda terra de meus ancestrais, entrega ao Povo de Israel sobre a promessa do Eterno a Abraão, passo por muitos locais bíblicos e arqueológicos, mas sem dúvida alguma, um dos mais impressionantes é Cesareia Marítima.

A Antiga Cidade de Cesareia Marítima localiza-se na costa do Mediterrâneo, no meio do caminho entre Tel Aviv e Haifa. As escavações arqueológicas durante as décadas de 50 e 60 revelaram remanescentes de muitos períodos e, particularmente, o complexo de fortificações da cidade cruzada e o teatro romano. A cidade é hoje apenas uma pequena parte da moderna cidade israelense de Cesareia, uma das mais modernas e ricas do país.

Durante os últimos 20 anos, importantes escavações realizadas por numerosas expedições arqueológicas de Israel e do exterior que expuseram impressionantes vestígios da grandiosidade longínqua da cidade romana e da posterior cidade dos cruzados.
A Cidade do Período Romana

Cesareia foi fundada pelo Rei Herodes no século I a.E.C. sobe as bases de uma antiga e pequena cidade greco-fenícia, na localização de um pequeno porto comercial denominado Torre de Straton. Cesareia recebeu este nome por Herodes em homenagem ao imperador romano César Augusto que era seu amigo e aliado. A cidade foi detalhadamente descrita pelo famoso historiador Flávio Josefo (Yosef Matitiyahu, Antigüidades XV pág. 331 e seg.; Guerra I, pág. 408 e seg.). Era uma cidade bem murada e com o maior porto na costa oriental do Mediterrâneo, era também chamada de Sebastos, o nome grego do Imperador Augusto.

Na cidade havia um templo dedicado a César Augusto que foi construído sobre um pódio elevado diante do porto. Uma ampla escadaria conduzia do píer ao templo. No local também foram erigidos grandes edifícios públicos e muito bem decoradas instalações de entretenimento e diversão pública, segundo a tradição imperial. O palácio do Rei Herodes situava-se na parte meridional da antiga cidade.

No ano 6 da era cristã, Cesaréia tornou-se a sede dos procuradores romanos da Província da Judeia e nela se instalou o quartel-general da 10 Legião Romana. Nos séculos II e III da era cristã, a cidade se expandiu muito, tornando-se uma das mais importantes da parte oriental do Império Romano, sendo classificada como a "Metrópole da Província da Síria-Palestina".

Foi durante este período que os romanos começaram a associar a região a Palestina(do termo Filisteu) devido ao ódio aos judeus e na tentativa de apagar da memória da região o nome original do país e dos verdadeiros donos do direito a terra.

Cesareia Marítima desempenhou um importante papel na história do início do cristianismo. Foi aqui que segundo o livro de atos, aconteceu o batismo do centurião romano Cornelius (Atos 10:1-5, 25-28) e de todos os seus familiares. O Apóstolo Paulo partiu daqui para sua viagem pelo Mediterrâneo oriental, e aqui mesmo foi aprisionado e enviado a Roma para ser julgado(Atos 23:23-24).
O grande palácio foi construído sobre um promontório rochoso saliente, na parte meridional da cidade romana e avançava em direção ao mar em continuidade do grande aterro feito por Herodes o Grande.

As escavações revelaram uma grande estrutura arquitetônica, de 110 m x 60 m, com uma grande piscina decorada e cercado por grandes colunas. Esta construção era muito elegante, em uma localização tão singular, e foi identificada como o palácio de Herodes por Flávio Josefo em seu livro Antiguidades Judaicas XV, f. 332).

O palácio foi utilizado durante todo o período romano, conforme atestam duas colunas com inscrições dedicatórias em grego e latim, contendo os nomes dos governadores da província da Judeia. No local há também uma rocha que foi encontrada e nela uma inscrição em grego antigo onde faz menção a Pôncia Pilatos, então, procurador da Judeia.

Na cidade ainda há o quase intacto teatro romano que fica localizado bem no extremo sul da cidade.
Sua construção é atribuída ao Rei Herodes e foi a primeira das instalações romanas de entretenimento construídas em seu reino. O teatro está de frente para o mar e tem milhares de lugares bem arrumados numa estrutura semi-circular arqueada. O piso semi-circular para a apresentação era revestido de início com gesso pintado, posteriormente teria sido lajeado com mármore. No local ainda são feitas apresentações de grandes nomes de artistas israelenses ainda nos dias de hoje.

Foi dentro deste teatro em que durante as escavações foi encontrada a pedra com a inscrição mencionando Pôncio Pilatos, Procurador da Judéia e também com a menção de Tiberium (edifício em homenagem ao Imperador Tibério), que ele construiu.

O anfiteatro, na costa meridional da cidade, foi mencionado também por Flávio Josefo. Era orientado no sentido norte-sul e media 64 x 31 m. Os lados oriental e setentrional (arredondado) estão bem preservados; o lado ocidental foi destruído em grande parte pelo mar. Uma parede de 1,05 m de altura rodeava a arena coberta com gesso batido. Quando foi construído, na época de Herodes, tinha cerca de 8.000 lugares; no século I E.C. foram acrescentados mais lugares, aumentando sua capacidade para 15.000 espectadores. As dimensões, a forma e as instalações indicam que este anfiteatro era usado para corridas de cavalo e de carruagens sendo, de fato, um hipódromo. No local foi encontrada uma inscrição referindo-se a Morismus [o] cocheiro. Durante o século II, o anfiteatro foi construído e adaptado para ser usado como os demais anfiteatros.

O grande aqueduto de Cesareia

O grande aqueduto de Cesareia foi construído para garantir um abundante suprimento de água. Ele foi construído no período herodiano, sendo posteriormente reparado e duplicado para conduzir água em
um canal duplo, por causa do crescimento da população da cidade.

O aqueduto superior tem início nas fontes localizadas a uns 9 km a nordeste de Cesaréia, no sopé da parte sul do Monte Carmelo. Ele foi construído com considerável conhecimento de engenharia, permitindo que a água corresse, pela ação da gravidade desde as fontes até o centro da cidade. Em alguns trechos, o aqueduto é sustentado por fileiras de arcos, e atravessa a cadeia de rocha kurkar ao longo da costa passando por um túnel. Entrando na cidade pelo lado norte, a água corria por um sistema de tubulação até as cisternas e fontes por toda a cidade. Várias inscrições no aqueduto testemunham que os responsáveis por sua manutenção eram a Segunda e a Décima Legiões.

Cesareia no Período Bizantino

Durante este período, Cesareia tornou-se um importante centro cristão romano. Orígenes, um dos pais da Igreja, fundou uma escola cristã na cidade que tinha uma biblioteca com mais de 30.000 manuscritos. No começo do século IV, o teólogo Eusébio, que foi bispo de Cesareia, compôs aqui sua monumental Historia Ecclesiastica dos primórdios do cristianismo e o Onomasticon, um amplo estudo geográfico-histórico da Terra Santa.

A Cesaréia bizantina era cercada por uma muralha de 2,5 km de comprimento, que protegia os bairros residenciais construídos do lado de fora da cidade romana que era bem menor. Em sua seção meridional havia um portão de 3 m de largura. Junto com a população cristã foram levantadas suas numerosas igrejas, e também haviam ali comunidades judaicas e samaritanas, que construíram nela suas belas sinagogas. Durante este período, o porto romano interno foi bloqueado e construíram-se edifícios no que havia se tornado terra firme. Uma linha de galerias com lojas haviam sido construídas contra a parede do pódio, diante do porto.

A igreja principal era a Igreja do Martírio do Sagrado Procópio, construída no século VI sobre os remanescentes do templo romano de Augustos, sobre o pódio. Era uma igreja octogonal, de 39 m de largura, que se erguia dentro de um perímetro quadrado de 50 x 50 m, rodeada de salas ao longo das muralhas. O chão era lajeado com placas de mármore de formas variadas. Fora da linha de colunas do edifício, foram encontrados vários capitéis coríntios que foram decorados com cruzes.

Um edifício grande e bem trabalhado, com numerosos pátios e salas espalhados por toda a área da insula (bloco de edifícios), cercado pelas ruas principais da cidade, era o edifício do governo. Sua entrada era pelo cardo (rua principal no sentido norte-sul), e seu lado ocidental era sustentado por uma fileira de galerias, que no passado haviam sido usadas como depósitos do antigo porto. Uma dessas galerias que está de frente para o decumanus (rua principal no sentido leste-oeste), era revestida de gesso e decorada com desenhos na parede em vermelho e preto, inclusive figuras de Jesus e dos doze apóstolos.

Um grande salão com uma abside localizado no centro do edifício do governo, funcionava como tribunal. Fragmentos de uma inscrição em grego aqui encontrados referem-se a um decreto imperial que trata dos honorários que os funcionários do tribunal podiam cobrar pelos serviços prestados. Na parte nordeste do edifício havia um conjunto de salas com chão de mosaico; um deles com uma citação da Epístola de S. Paulo aos Romanos (13:3).

"Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela;
Romanos 13:3"

Nichos retangulares foram achados nas paredes de uma sala comprida ao norte do tribunal e indicam que provavelmente serviam como arquivo para documentos.

Os remanescentes de uma sinagoga do século V foram encontrados na praia, ao norte do porto. O edifício retangular está virado para o sul, na direção de Jerusalém. Entre os detalhes arquitetônicos encontrados em suas ruínas há capitéis com entalhes de menorot (candelabros), uma coluna com a inscrição Shalom e partes de uma inscrição em hebraico com a lista dos vinte e quatro sacerdotes do Templo de Jerusalém.

Foram descobertos também os remanescentes de vários outros grandes edifícios, dentre eles grande uma casa de banhos do século IV, que foi reformada. Ela consistia em um conjunto de pátios e salas, muitos dos quais foram lajeados com belos mosaicos, com bancos ao longo das paredes, sendo que na área do caldarium (estufa) haviam vários compartimentos dotados de sistemas de aquecimento (hipocausto). Algumas salas eram particularmente elegantes e bem lajeadas com mármore que era importado e continham decorações de mosaico nas paredes; numa delas há uma figura feminina, perto da qual as palavras "mulher bonita".

Dentro do anfiteatro, que já não estava mais em uso, foi construído um palácio de dois andares, ligados por uma escada. O pavimento superior incluía dois pátios e salas decoradas com azulejos ou mosaicos coloridos, que serviam de residências luxuosas. O andar inferior continha um pátio com uma abside num dos lados, decorado com azulejos coloridos. Ao longo deste pátio erguiam-se duas fileiras de colunas com um santuário de mármore entre elas e na parede setentrional havia uma bica com um tanque retangular por baixo. Este andar inferior era um jardim aberto.

Cesareia durante o período Árabe

Em 639, Cesaréia foi conquistada pelos árabes e sua importância e população declinaram, diminuindo bastante devido ao abandono. As áreas urbanas foram abandonadas e substituídas por terraços para agricultura. A cidade árabe estava cercada, no século X da era cristã, por uma muralha de 3 m de espessura, cujos remanescentes foram encontrados durante as escavações.

Cesareia no período dos Cruzados

Em 1101, o exército franco comandado pelo Rei Balduíno I conquistou Cesareia das mãos dos muçulmanos. Esta se tornou uma sede para um bispado e, além dos francos, nela se estabeleceram também cristãos orientais e muçulmanos. Os genoveses encontraram na cidade um vaso de vidro verde e declararam tratar-se do Santo Graal, o cálice usado por Jesus na Última Ceia. Eles o levaram para Gênova e o colocaram dentro da Igreja de S. Lourenço na Itália.

Cesaréia foi posteriormente capturada por Saladino no ano de 1187 da era cristã, após um curto e duro cerco. Ela foi reconquistada em 1191 por Ricardo Coração de Leão, Rei da Inglaterra, que exilou os seus habitantes muçulmanos.

Frente à crescente ameaça muçulmana, Luís IX, Rei da França (que foi posteriormente canonizado), restaurou e fortificou Cesaréia em 1251-52. Ele construiu uma majestosa muralha, de 4 m da espessura e cerca de 1,6 km de comprimento, cercava a cidade, e cobria uma área de mais de 16 hectares. A cidade era protegida ainda por um declive, por torres e um fosso de 10 m de profundidade e 15 m de largura que podem ser vistos ainda nos dias de hoje.

O acesso à cidade era através de portões, sendo o principal localizado na muralha oriental. Para se chegar a essa porta principal, por acesso indireto, passava-se por uma ponte construída sobre arcos, sustentados por pilares no fundo do fosso. A sala do portão quadrada tem um teto abobadado e em forma de cruz, ele é sustentado por consolos decorados com motivos florais. As portas eram fechadas por dentro com barras de madeira e protegidas externamente por uma grade de ferro, que era baixada através de uma fenda no teto. Estas impressionantes fortificações foram descritas detalhadamente pelos cronistas da época dos cruzados.

A catedral da cidade cruzada foi construída sobre o pódio erguido pelo Rei Herodes, a fim de servir de acrópole da cidade. A catedral do século XII, cuja parte oriental foi acrescentada nos meados do século XIII, era uma estrutura modesta medindo 55 x 22 m. O espaço interno se dividia numa nave central e duas laterais, que terminavam no leste em três absides; o chão era decorado e repleto de mosaicos. A galeria abobadada era sustentada por pilares e pilastras retangulares.

A Cesareia cruzada chegou ao fim em 1265, quando o sultão mameluco Baybars atacou a cidade. Depois de um curto cerco, os defensores cruzados perderam a esperança e evacuaram a cidade. Os conquistadores mamelucos, temendo um retorno dos cruzados, derrubaram completamente as fortificações da cidade e ateando-a fogo.

Cesareia é um dos mais majestosos sítios arqueológicos de Israel que está aberto ao público. As novas escavações na década de 90 foram realizadas por duas expedições: a da Autoridade de Antigüidades de Israel foi dirigida por S. Porat; e a Expedição Conjunta de Cesaréia, foi organizada pelo Centro de Estudos Marítimos da Universidade de Haifa, dirigida por A. Raban, da Universidade de Maryland, dirigida por K. Holum, e do Instituto de Arqueologia da Universidade de Haifa, dirigida por J. Patrich.

Fonte: Cafetorah

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