sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Brasil tem novo Embaixador junto à Santa Sé

O Papa Bento XVI recebeu nesta segunda-feira, 31 de outubro, o Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, Almir Franco de Sá Barbuda, para a apresentação de suas credenciais.
Em seu discurso, o Pontífice recordou sua visita ao Brasil em 2007, afirmando que O carinho que recebeu dos brasileiros "permanece indelével" em suas lembranças. E agradeceu o apoio manifestado, seja do governo, seja da diplomacia brasileira junto à Santa Sé, para a organização da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, "que se realizará, se Deus quiser, em 2013 no Rio de Janeiro".
Bento XVI recordou a fecunda história do nosso país com a Igreja Católica, iniciada na primeira missa celebrada em 26 de abril de 1500, e que deixou testemunhos em muitas cidades e monumentos, como é o caso do Cristo Redentor, que se tornou símbolo de identificação mundial do Brasil.
"Porém, mais do que construções materiais, a Igreja ajudou a forjar o espírito brasileiro caracterizado pela generosidade, laboriosidade, apreço pelos valores familiares e defesa da vida humana em todas as suas fases", afirmou o Papa.
O Pontífice citou o Acordo assinado entre a Santa Sé e o Governo Brasileiro em 2008. Bento XVI falou deste Acordo como a garantia que possibilita à comunidade eclesial desenvolver todas as suas potencialidades em benefício de cada pessoa humana e de toda a sociedade brasileira. Tendo em vista que a contribuição da Igreja não se limita a concretas iniciativas assistenciais ou humanitárias, mas, sobretudo, o crescimento ético da sociedade. Em especial, o Pontífice dedicou falou da contribuição da Igreja no campo da educação, cujo prestígio é reconhecido por toda a sociedade.
"É conveniente reafirmar que o ensino religioso confessional nas escolas públicas, tal como foi confirmado no referido Acordo de 2008, longe de significar que o Estado assume ou impõe um determinado credo religioso, indica o reconhecimento da religião como um valor necessário para a formação integral da pessoa."
Por fim, no campo da justiça social, Bento XVI recordou que o Governo brasileiro sempre poderá contar com a Igreja, principalmente nas iniciativas que visam a erradicação da fome e da miséria, ajudando os mais necessitados a livrarem-se da sua situação de indigência, pobreza e exclusão. (BF)

Segue na íntegra o texto do Papa Bento XVI:
Senhor Embaixador,
Ao receber as Cartas Credenciais que o designam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Federativa do Brasil junto da Santa Sé, apresento-lhe respeitosos cumprimentos de boas-vindas e agradeço-lhe as significativas palavras que me dirigiu, nelas manifestando os sentimentos que lhe vão na alma ao iniciar esta sua nova missão. Vi com grande satisfação as saudações que me transmitiu da parte de Sua Excelência a Senhora Presidente da República Dilma Rousseff, pedindo ao Senhor Embaixador a amabilidade de fazer-lhe chegar a minha gratidão pelas mesmas e certificar-lhe dos meus deferentes votos do melhor êxito no desempenho da sua alta missão, bem como das minhas orações pela prosperidade e bem-estar de todos os brasileiros, cujo carinho experimentado na minha visita pastoral de 2007 permanece indelével nas minhas lembranças. Registro com vivo apreço e profundo reconhecimento a disponibilidade manifestada pelas diversas esferas governamentais da Nação, bem como da sua Representação diplomática junto da Santa Sé, para apoiar a XXVIII Jornada Mundial da Juventude que se realizará, se Deus quiser, em 2013 no Rio de Janeiro.

Como recordava o Senhor Embaixador, o Brasil, pouco tempo depois de despontar como Nação independente, estabeleceu relações diplomáticas com a Santa Sé. Isso nada mais era senão o desbordar da fecunda história conjunta do Brasil com a Igreja Católica, que teve início naquela primeira missa celebrada no dia 26 de abril de 1500 e que deixou testemunhos em tantas cidades batizadas com o nome de Santos da tradição cristã e em inúmeros monumentos religiosos, alguns deles elevados a símbolo de identificação mundial do País como a estátua do Cristo Redentor com seus braços abertos, num gesto de bênção à Nação inteira. Porém, mais do que construções materiais, a Igreja ajudou a forjar o espírito brasileiro caracterizado pela generosidade, laboriosidade, apreço pelos valores familiares e defesa da vida humana em todas as suas fases.

Um capítulo importante nesta frutuosa história conjunta foi escrito com o Acordo assinado entre a Santa Sé e o Governo Brasileiro, em 2008. Tal Acordo, longe de ser uma fonte de privilégios para a Igreja ou supor uma afronta à laicidade do Estado, visa apenas dar um caráter oficial e juridicamente reconhecido da independência e colaboração entre estas duas realidades. Inspirada pelas palavras do seu Divino Fundador, que mandou dar «a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus» (Mt 22,21), a Igreja exprimiu assim a sua posição no Concílio Vaticano II: «No domínio próprio de cada uma, comunidade política e Igreja são independentes e autônomas; mas, embora por títulos diversos, ambas servem a vocação pessoal e social dos mesmos homens» (Const. Gaudium et spes, 76). A Igreja espera que o Estado, por sua vez, reconheça que uma sã laicidade não deve considerar a religião como um simples sentimento individual que se pode relegar ao âmbito privado, mas como uma realidade que, ao estar também organizada em estruturas visíveis, necessita de ver reconhecida a sua presença comunitária pública.

Por isso cabe ao Estado garantir a possibilidade do livre exercício de culto de cada confissão religiosa, bem como as suas atividades culturais, educativas e caritativas, sempre que isso não esteja em contraste com a ordem moral e pública. Ora, a contribuição da Igreja não se limita a concretas iniciativas assistenciais, humanitárias, educativas, etc., mas tem em vista, sobretudo, o crescimento ético da sociedade, impulsionado pelas múltiplas manifestações de abertura ao transcendente e por meio da formação de consciências sensíveis ao cumprimento dos deveres de solidariedade. Portanto o Acordo assinado entre o Brasil e a Santa Sé é a garantia que possibilita à comunidade eclesial desenvolver todas as suas potencialidades em benefício de cada pessoa humana e de toda a sociedade brasileira.

Dentre estes campos de mútua colaboração, apraz-me salientar aqui, Senhor Embaixador, o da educação, para o qual a Igreja contribui com inúmeras instituições educativas, cujo prestígio é reconhecido por toda a sociedade. Com efeito, o papel da educação não pode se reduzir a uma mera transmissão de conhecimentos e habilidades que visam à formação de um profissional; mas deve abarcar todos os aspectos da pessoa, desde a sua faceta social até ao anelo de transcendência. Por esta razão, é conveniente reafirmar que o ensino religioso confessional nas escolas públicas, tal como foi confirmado no referido Acordo de 2008, longe de significar que o Estado assume ou impõe um determinado credo religioso, indica o reconhecimento da religião como um valor necessário para a formação integral da pessoa. E o ensino em questão não pode se reduzir a uma genérica sociologia das religiões, porque não existe uma religião genérica, aconfessional. Assim o ensino religioso confessional nas escolas públicas além de não ferir a laicidade do Estado, garante o direito dos pais a escolher a educação de seus filhos, contribuindo desse modo para a promoção do bem comum.

Enfim, no campo da justiça social, o Governo brasileiro sabe que pode contar com a Igreja como um parceiro privilegiado em todas as suas iniciativas que visam a erradicação da fome e da miséria. A Igreja «não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado, mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça» (Encíclica Deus caritas est, 28), pelo que a ela sempre se mostrará feliz em auxiliar na assistência aos mais necessitados, ajudando-lhes a livrar-se da sua situação de indigência, pobreza e exclusão.

Senhor Embaixador, ao concluir este encontro, renovo-lhe os meus votos de bom êxito na sua missão. No desempenho da mesma, estarão sempre à sua disposição os vários Dicastérios que formam a Cúria Romana. De Deus Onipotente, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, invoco as maiores Bênçãos para a sua pessoa, para os que lhe são caros e para a República Federativa do Brasil, que Vossa Excelência tem a honra, a partir de agora, de representar junto da Santa Sé.
Vaticano, 31 de outubro de 2011.
[Benedictus PP. XVI]

Brasil tem novo Embaixador junto à Santa Sé
Almir Franco de Sá Barbuda, ex-Cônsul-Geral em Washington, Estados Unidos, entregou às 11h desta segunda-feira, suas credenciais ao Papa Bento XVI.
A audiência com o Papa durou vinte minutos. Parte deles dedicada a uma conversa privada entre o novo Embaixador e Bento XVI.
Em seu discurso ao Papa, o novo Embaixador destacou a honra em representar o governo de "uma nação com mais de 68% de população católica, a maior do mundo em número de fiéis, e com o maior episcopado dos cinco continentes".
Os 185 anos de relações diplomáticas entre o Brasil e o Vaticano também foram lembrados no contexto do Acordo sobre o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, firmado em 2008 e promulgado em 2010, que passou a regulamentar o relacionamento entre os dois Estados.
A realização da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, em 2013, também foi destacada pelo novo Embaixador. "Temos consciência da importância deste acontecimento para a Igreja Católica e para os jovens católicos de todo o mundo e nos sentimos especialmente privilegiados ao vermos escolhido o Rio de Janeiro. O evento coincide com a ascensão de um Brasil novo, com menos desigualdades e com grande otimismo e fé no seu destino. O tema central escolhido por Vossa Santidade não poderia, portanto, ser mais oportuno e ter mais eco junto ao povo e, sobretudo, junto à juventude brasileira, que sem dúvida acorrerá com grande devoção e entusiasmo ao chamado de Vossa Santidade: 'Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações'. O terreno é bastante fértil para frutificar em terras brasileiras e em terras do continente americano, onde vive quase a metade da população católica do mundo", referiu Sá Barbuda.
Sobre as transformações pelas quais o Brasil tem passado nos últimos anos, o novo Embaixador lembrou que ainda há muito trabalho por ser feito para garantir a qualidade de vida dos 190 milhões de brasileiros. Contudo, destacou a vocação brasileira de mediador internacional.
"O Brasil, assim como a Santa Sé, tem procurado marcar sua atuação por iniciativas em favor da paz e de atos de solidariedade em relação a países de menor desenvolvimento, bem como por estreitar ainda mais as relações com seus vizinhos sul-americanos e com a África - continente que tanto contribuiu para a formação cultural e étnica do povo brasileiro - justamente as regiões onde é mais acentuada e ascendente a presença da Igreja Católica".
O Brasil no Vaticano
A Embaixada do Brasil é uma das 174 representações diplomáticas estrangeiras acreditadas junto à Santa Sé. De acordo com informações do site da Embaixada - vatemb.it – a "missão fundamental é representar o Governo brasileiro junto à Sé Apostólica e à Ordem de Malta, acompanhar a atuação do Papa e informar sobre o posicionamento da Santa Sé com relação a assuntos relevantes da atualidade, procedendo à análise de seus desdobramentos de cunho político".
Fonte: Portal UM

Nenhum comentário:

Postar um comentário