sexta-feira, 22 de junho de 2012

Artigo Padre Juarez: Sozinho jamais. Precisamos do outro!

Havia um telefone só, daqueles antigos. E a moça que aguardava o telefonema do namorado ficava plantada ao lado do aparelho, impedindo quem fosse de se aproximar, pois a qualquer momento poderia chegar a ligação. Televisão era uma também. Geralmente, ficava na sala para que todos pudessem assistir. Quando o programa era do gosto de todos, a família se reunia e trocava ideias e impressões sobre o que viam.

Por causa de somente um telefone na casa, aprendíamos a esperar e a respeitar o direito do outro. Uma só TV nos tornava mais condescendentes e maduros em relação ao espaço do outro. Afnal, se um gostava de um programa e eu não, saberia a hora de me colocar na frente do aparelho. Éramos mais maduros e não crianças mimadas, que querem tudo para si. Sabíamos estar juntos e aproveitar o momento coletivo. Era gostoso escutar o disco na vitrola, trocando de faixas e dizendo: “Põe aquela, agora, a terceira”. Então, todos escutavam juntos. Sensação bem diferente de se escutar uma música com um fone de ouvido, só pelo prazer de não partilhar aquele momento.

Você deve estar se perguntando por que estou tão saudosista, lembrando coisas de antigamente. Não se trata de ser saudosista nem de louvar o passado. Pelo contrário. Acho a tecnologia ótima e agradeço a Deus por todos os avanços que temos. Estou apontando para um exagero comum entre nós. A falta de partilha e a recusa de se viver em sociedade. Ao contrário daquilo que existia antes, temos um telefone para cada pessoa, quando não dois por pessoa. A televisão está em todos os cômodos da nossa casa, no carro e também no celular. E a música é tão individual como meu umbigo. A obsessão pelo individualismo é tão grande que estamos recusando até nos exercitar na academia, que é um ambiente coletivo e saudável. Hoje contratamos o personal trainer; afnal, queremos evitar todo contato com as outras pessoas. A loucura do personal superou o personal computer e extrapolou. Hoje, quase tudo é personal: personal stylist, personal dogger, personal organizer, personal assistant e por aí vão essas inúmeras baboseiras “personais”. Essa mania de personal, ou seja, de tornar tudo pessoal e não comunitário, nos precipita a um abismo solitário.  

Fugimos das pessoas, pois não queremos contato. Buscamos que tudo seja “meu” e nada seja “nosso”.
Longe do coletivo, ficamos sós e, facilmente, nos tornamos solitários e vazios. A solidão tão temida hoje foi criada por nós, que nos afastamos das pessoas para ter tudo individualizado. A recusa de vivermos juntos e usando juntos o que necessitamos no dia a dia nos transformou em pessoas desconfiadas e sós, destinadas à tristeza e à angústia. Estamos solitários porque escolhemos não dividir nada; nem coisas, nem espaço e nem nosso coração.

Precisamos abandonar essa mania de querer tudo exclusivo e individualizado para saborear o prazer de se escutar uma música juntos, ver TV comendo pipoca e sorrindo da mesma piada, encontrar as pessoas no passeio, na academia e no parque e comentar a notícia do jornal. Precisamos sair de nós e nos depararmos com nossos limites, deixando espaço para o outro que convive comigo. Mude seus hábitos e tente fazer mais coisas em companhia dos outros. O resultado é alegria e o prazer que o mundo individualista nos roubou.

Padre Juarez de Castro

Fonte: Revista Viva Mais

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